Na minha mente esse é o primeiro dia das crianças em 5 anos. Eu realmente esqueci da existência dessa data, eu não via nenhuma propaganda sobre esse dia nem ninguém no meu círculo falando sobre, de repente eu começo a ver postagens sobre isso e meu círculo de amigos comparando nossas fotos de criança. O que aconteceu?
Eu acho o romantismo da infância meio bobo na maioria das vezes, eu sou muito mais legal agora do que eu era em 2013, meu entendimento do mundo é melhor e a minha capacidade de desfrutar a vida é muito mais completa do que quando eu tinha... o quê, 5 anos? Ser criança é uma merda! Claro que aquela memória específica sobre algo que eu não posso viver de novo é nostálgica e bonita, mas, se dado a oportunidade, eu jamais voltaria a ser criança.
Eu tenho algum bloqueio mental que me impede de consumir qualquer mídia explicitamente direcionada a crianças, eu odeio desenho de criança, músicas infantis e o jeito escroto que adultos conversam com bebês, salvo exceções. Mesmo assim eu tenho um fascínio com esse tipo de obra e aqueles que dedicam sua vida a educar e entreter durante o trecho mais incompreendido da vida de um ser humano.
Adoro pensar que um dos escritores de livros infantis mais famosos dos EUA (e consequentemente, do mundo) frequentemente visitava a mansão playboy e compôs A Boy Named Sue (inicialmente interpretado por Johnny Cash), Shel Silverstein é um daqueles caras cuja imagem real era um completo oposto de sua obra, assim como o Hayao Miyazaki e o Junji Ito.
Talvez nem na literatura infantil esse cara fugiu de controvérsia, A Árvore Generosa e seu final aberto para interpretação transformou o livro numa peça de discussão assídua sobre a verdadeira mensagem por trás da história, sujeito e reedições e mudanças pequenas na história que completamente mudam o seu significado.
Fica de recomendação o excelente vídeo do Solar Sands sobre o livro.
Eu tenho profundo respeito por aqueles que tratam uma criança com respeito o suficiente a ponto de lhes dar a liberdade de interpretar sua obra como quiserem, talvez sem nem elas saberem, um final em aberto demonstra isso muito mais do que uma conclusão mastigadinha e segura para o espectador.
Digimon também faz muito isso. Todo o conceito de "Monstros digitais" na saga Adventure pode ser enxergado como uma alegoria muito fantasiosa pra como as crianças que nasceram já inseridas no meio digital interpretam essa coisa que eles não entendem muito bem, além do escapismo proporcionado por elas, mas isso só se aplica aos episódios dirigidos pelo Hosoda. (Sério, assista o OVA de Digimon Adventure! A animação é muito boa pra época e pouca gente o conhece pela maneira estranha que ele foi adaptado pro ocidente...)
Aquilo que assistíamos, lemos ou escutávamos há muito tempo, principalmente quando crianças ficam conosco de maneira que outras obras, mesmo que melhores em qualidade, jamais conseguirão ficar na nossa memória da mesma maneira, a leve memória de um desenho animado sobre coelhos monocromáticos parisienses me fascinou por tanto tempo que, mesmo eu não lembrando de onde essa memória vinha, eu tinha certeza que ela era real, e realmente era! Gaspard et Lisa existe e é pra mim o que sylvanian families foi para as garotas alternativas com uns parafusos a menos.
Talvez o fascínio com a infância venha de o quão único esse período é na vida das pessoas e como é praticamente impossível experienciar as coisas infantis com o mesmo brilho nos olhos de uma criança, vá em frente, reassista os filmes da Barbie ou os stop motions fofíssimos da Hello-Kitty, Talvez você encontre uma qualidade ali que faça o todo da experiência valer a pena, mas não vai ser o mesmo, e tá tudo bem! Só o fato de enxergar novas qualidades em alguma mídia da sua infância é lindo, mostra crescimento, amadurecimento e caráter! Não gosto do saudosismo da infância porque a eterna nostalgia é estagnante, mas não precisa matar a criança dentro de você que nem eu fiz por um tempo. Não se importe, gaste quantidades obscenas de dinheiro em cartinhas de pokémon, vá no wayback machine de vez em quando e lembre como você adorava visitar o site da Discovery Kids quando criança, só tenha cuidado em achar um bom meio termo pra não se perder nesse ciclo.
(OBS: Esse último parágrafo é mais pra mim do que pra você, leitor. Eu realmente preciso parar de odiar a minha infância.)
Se alguém realmente leu até aqui, muito obrigado! Eu me diverti muito escrevendo isso e feliz dia das crianças atrasado para todos. Fui!