13 de julho de 2024

A ascenção da indie net é a melhor coisa que podia estar acontecendo agora

     A evolução da internet é normalmente dividida em três períodos, Web 1, caracterizada pelos websites estáticos com HTML e CSS puro dos anos 90 e 2000, Web 2.0, com a popularização dos sites dinâmicos na década de 2010, e a piada em movimento que é a Web 3.0, que promete conectar a internet a blockchain de maneira tão suave quanto os gráficos dos preços de NFT's, fruto dessa nova era da internet.

NFTs Statistics - Sales, Trends and More [2023] 

 

       Mas aí é que tá o problema. A web 3.0 é quase um golpe escondido de revolução virtual, afinal, a grande maioria dos sites que se autodeclaram parte dessa web moderna só querem tirar o seu dinheiro mesmo, enquanto a web 2.0 foi dominada pelas grandes empresas, que partilham do monopólio dos mesmos 15-20 sites que concentram 90% de todo o tráfego na internet.

    Então, eu escolhi rejeitar a modernidade e abraçar a tradição.
 

    A web independente é algo que sempre existiu, mas que começou a ganhar tração nos últimos 3 anos, e consiste em pessoas montando sites pessoais, estilo web 1.0, para uso próprio, com controle completo sobre sua maneira de expressão e customização.

    Esse tipo de site normalmente é hosteado em anfitriões como o Neocities, enquanto os blogs modernos vão para plataformas como o Bearblogs, e o próprio blogspot mesmo.

    Pela primeira vez um movimento de contracultura virtual me interessou tanto assim, a liberdade que uma página escrita em HTML, CSS e JS por você mesmo é maior do que qualquer ferramenta de customização de página disponibilizada pelas grandes mídias sociais.

    Isso também está servindo como um refúgio de rede social pra mim, acessar sites independentes ainda me dá todo o sentimento de comunicação e interação social digital presente num twitter da vida, mas sem nenhum dos pontos ruins.

    Ao observar a comunidade que está se formando ao redor da internet independente, eu noto pela primeira vez um núcleo de pessoas DA MINHA IDADE, fazendo algo reminiscente da internet antiga, contra AI, e contra o conceito de Web3, eu nunca me senti tão pertencente a uma comunidade de larga escala online antes, sem querer ser o chatão, mas eu nunca tinha conhecido alguém contra IA da minha idade antes, e descobrir a internet independente foi um puta alívio, finalmente, um cantinho legal na internet, por favor, não arruínem isso. 

    Embaixo, vou deixar alguns dos meus sites do Neocities preferidos, para quem quiser ver como essa comunidade funciona. Obrigado por ler esse post que eu escrevi com mais pressa do que o normal (e que provavelmente ficou esquisito e mal estruturado por causa disso)

Cinni 

Moonview 

Dokodemo 

 

(Eu também estou trabalhando num site, mas é WIP... aqui

3 de julho de 2024

Wetdream - Pratos de ataque e corações partidos

[essa review é ruim, eu a escrevi muito mal. Eu não sei escrever reviews. Leia com cuidado.]

 

 "Alguém devia proibir furries de escrever música" - Um furry

wetdream | Willy Rodriguez 

 

    Wetdream de Willy Rodriguez saiu no natal de 2023 e voou debaixo do radar de todo mundo exceto os fãs da gravadora Friend's House, isso até ele aparecer na primeira página de álbuns do ano do RYM.

 

    Tá liberado já falar de RYM-Core? Por mais que eu seja contra ter o site como a sua única maneira de encontrar música para escutar, é inegável que de vez em quando o site manda uma bola curva pros seus usuários, normalmente no começo do ano, é comum ver um disco nichado, independente sendo acidentalmente catapultado pro primeiro lugar dos rankings do ano, normalmente isso tem dois finais: Ou o álbum encontra seu público e vira um disco popular em círculos como o do metal; ou o álbum é visto tão mal por pessoas fora de sua bolha que suas avaliações são bombardeadas até sumirem do ranking completamente.

 

Parmaiomeni, por exemplo é um álbum de metal escrito por um músico chinês cantado em grego que apareceu em primeiro no ranking de 2024, e que foi recebido bem o suficiente pra manter uma boa avaliação até hoje.

 

    Sophomore Slump Callithump, brotou no número 1, e teve sua avaliação absolutamente bombardeada pela mera quantidade de olhos que foram direcionados a ele. Pobre álbum...

    O álbum que eu vou falar sobre hoje não sofreu nenhum desses destinos, mas mesmo assim teve uma recepção mista quando apareceu pra tantas pessoas em uma das páginas de maior prestígio desse site.

    Wetdream é um disco pro público que acha Car Seat Headrest a coisa mais legal do mundo, eu não faço parte desse núcleo, mas por algum motivo eu me apaixonei por esse álbum. Logo no começo, os instrumentais ecoam entre si e a estética lo-fi é bastante aparente, desde o primeiro refrão da primeira música a bateria é muito mais presente do que qualquer outro instrumento, e o uso excessivo de pratos de ataque/rides carimbam o quão caseira foi a gravação.

   Há um charme na fidelidade baixa, tem um motivo pro Phil Elvrum ser uma das figuras mais importantes do século XXI, mas existe uma linha tênue entre "lo-fi" e audio ruim, é tipo a diferença entre vintage e brega, sabe? 

  Do jeito mais simples possível, Wetdream é um álbum sobre amor não correspondido escrito por adolescentes que talvez passem tempo demais na internet; os instrumentais de baixa qualidade, misturados com as letras extremamente pessoais, gritadas ou sussurradas acabam representando o caos da mente de um adolescente apaixonado em formato de música, seja isso de propósito ou não.

    Todos os clichês que compõem um breakup album comum estão aqui, o vocalista manda alguém tomar no cu, e implora pra voltar com ela na mesma música, mais de uma vez. O que diferencia wetdream do projeto de bandcamp normal é o quão ousado ele é, até quando não devia ser. As time signatures esquisitas, os instrumentos incomuns, os gritos que o vocalista obviamente não consegue performar normalmente, o resultado disso é um disco bagunçado, e que as vezes exagera no que entrega, mas ambicioso de qualquer maneira.

 

    Falando em ambição, esse álbum tem uma música de 10 minutos de duração.

 

    A canção autointitulada fica bem no meio do disco, e repete tudo o que as músicas anteriores tinham mostrado, só que numa música de 10 minutos dessa vez. O refrão tenta soar como aqueles hinos musicais cantados em estádios á lá U2, enquanto tenta manter as letras pessoais e íntimas, é uma mistura que nem sempre funciona, mas que passa despercebida quando é enterrada pelos instrumentos surpreendentemente coerentes, que carregam a música nas costas (e o álbum, pra ser sincero.)

    Ah, também é nessa música que os autores solidificam Wetdream como um álbum de furry. Caso já não estivesse claro o suficiente, parte da letra tinha que ser dedicada a isso. Depois da segunda metade, Wetdream (a música) muda completamente de direção pra tornar-se muito mais minimalista e instrumentalizada, pessoalmente é onde as letras ficam mais bonitas e pessoais.

    <3 Também é bonitinho, provavelmente a música mais calma do disco, tem letras realmente boas dessa vez, os instrumentais ficam em segundo plano, mas continam sendo bons.  

    Lost in Translation é o completo oposto. Enquanto <3 fala sobre as coisas pequenas, o calor humano de ter alguém perto de você, essa música fala da parte suja de amar, sexo, romance, arruinar a vida do ex após o fim do relacionamento, e todos esses outros conceitos alienígenas que eu nunca vou entender. Provavelmente é a minha música favorita do álbum, o contraste da letra junto com a produção explosiva e confusa transforma lost in translation num destaque positivo. 

    Lembra quando quatro parágrafos atrás eu falei que tinha uma música de 10 minutos ambiciosa para um projeto praticamente feito só por adolescentes? Então, esse álbum acaba com uma música de 20 minutos.

    Revisited não é uma música legal de se falar sobre. Diferente dos outros tópicos abordados, o closer do disco lida de maneira bem nua e crua com assuntos de abuso sexual. Acompanhar as letras me deixa confuso e perplexo, ainda mais com a maneira que essa informação é apresentada ao ouvinte. O resultado é uma canção pesada, eu não sei o motivo dessa música estar aqui, não parece combinar com o restante, a dupla desabafa mais de uma vez aqui, provavelmente da maneira que eles melhor conseguem, por meio de música.

    Os ápices altos e baixos mais profundos do disco estão todos encapsulados nessa música. Existem tantas coisas encapsuladas aqui, referências bíblicas, o desabafo dos autores sobre suas experiências com abuso no passado. Não é uma música fácil de escutar.

 

    Após o lançamento desse álbum, a dupla Willy Rodriguez se separou. Então a ideia provavelmente era que esse seja o magnum opus deles desde o começo.

 

    Wetdream é um daqueles álbuns no qual eu enxergo o que há de errado nele, mesmo assim, que eu escolho ignorar simplesmente por eu gostar dele.

Músicas favoritas: Stop Calling, <3, Lost in Translation

Nota:4.5/5