5 de março de 2024

Na Noite Infinita (Review)

     Ano passado o fenômeno do shoegaze coreano, 'Parannoul' lançou o álbum mais eletrizante da década, de longe.


    Falando em década, dá pra acreditar que já estamos quase na metade dessa década? Que raiva, cara, parece que se passou no máximo 1 ano desde que as pessoas estavam discutindo se a década virava em 2020 ou 2021... O mesmo tempo se passou entre 2016 e 2020 e 2020 e 2024, dá pra acreditar?

    Acho que 2023 não foi muito um ano pra mim no quesito música, com a exceção do incrível Wetdream de Willy Rodriguez, nada se destacou demais pra mim, até que, no começo desse ano eu finalmente decidi dar outra chance pro Parannoul, mesmo com todo mundo considerando 'To See The Next Part of The Dream' um álbum essencial do shoegaze moderno, eu não gostei muito dele quando escutei-o pela primeira vez, então, quando 'After the Magic' e o seu live-album equivalente 'After the Night' saíram, eu meio que ignorei e deixei pra depois.

    Essa postagem é primariamente sobre After the Night, mas, se você quer saber minha opinião sobre After the Magic, eu gostei sim, mais do que os álbuns anteriores do Parannoul.


 

    O primeiro fator que aumentou a minha curiosidade sobre esse álbum ao vivo é o fato dele ter uma última música de 46 minutos, sendo uma versão extendida de uma música anteriormente lançada.


    Pera aí, isso me lembra de alguma coisa...


    Um live-album de um país asiático com elementos de Dreampop e psicodelia com um finisher de 40 minutos de uma música anteriormente lançada..?

    É IMPOSSÍVEL olhar pra After the Night e não puxar comparações com 98.12.28 Otokotachi no Wakare, o último live-album do grupo Fishmans, que é, pessoalmente, o meu álbum favorito de todos os tempos, e uma review que seria tão longa que eu nem quero pensar no quão difícil vai ser de escrever. (Eu não sei nem se tenho a capacidade de fazer isso...)

    Mesmo assim, esse álbum tem sua própria personalidade e é uma entidade completamente separada, é muito mais energético, cru e não polido, típico de um live-album, mas que consegue utilizar esses fatores ao seu favor, todo mundo sabe que um live-album raramente chega aos pés de sua gravação de estúdio em relação de qualidade, e quando chega, é um milagre, (i.e. o anteriormente mencionado 98.12.28, Nirvana Unplugged, Swans are Dead) Parannoul usa isso ao seu favor, seja intencional ou não, os microfones estourados, vocais meio língua-presa, instrumentos lutando por espaço e se amontoando em cima dos outros, todos servem para adicionar um pouco de personalidade e sal para esse projeto. Alguns trechos de Soft Bruise e Beautiful World exemplificam bem o que eu quero dizer.


    O último quarto do álbum, composto por White Ceiling e Into The Endless Night, poderia ser um álbum separado por sí só, a lenta ascenção durante os 10 minutos de White Ceiling parecem ser só um aquecimento para o monstro de 46 minutos que é a versão extendida de Into The Endless Night, algo que, novamente puxa comparações ao disco semelhante dos fishmans, com yurameki IN THE AIR e LONG SEASON - Live.

 

    Esse closer é provavelmente a melhor coisa a vir do shoegaze/dreampop pós 2010, aqui parece que tudo se encaixa, e as imperfeições trazidas pelo ambiente ao vivo amplificam a espontâneidade da música, desde o eco do palco até pequenas nuâncias na voz de Parannoul, e os guitarristas convidados, sendo eles o novo prodígio Yo, um artista que, com o seu primeiro álbum mostrou potencial imenso esse ano; o sophomore BrokenTeeth e o veterano Asian Glow, conseguem criar uma sequência de ruído tão única que só me resta perguntar como eles fizeram tudo isso ao vivo...

    Mesmo assim a música não é perfeita, os quase 6 minutos de puro ruído e 'noise', reminiscentes ao clássico 'You Made me Realize' do My Bloody Valentine, não se encaixaram muito bem no restante da música, quebram o 'pace' e a energia da música, além de ser desagradável de escutar, mesmo que seja interessante pelo ponto de vista de um show ao vivo.

 

    Em conclusão, NÃO, isso está LONGE de ser o novo 98.12.28, por mais que as semelhanças sejam quase cômicas, há muitas coisas faltando aqui, mas, mesmo assim, esse é o melhor lançamento do Parannoul em toda a sua curta, porém polarizante carreira, e me deixa animado para ver o que sairá dessa nova geração asiática do (kung-fu*) shoegaze.

 

*Sim, isso foi um trocadilho com Asian Kung-fu Generation, pode sair do post.

 

    Eu realmente espero que novidades venham do parannoul, se esse projeto e After The Magic são sinais de coisas melhores por vir, eu esterei escutando fielmente esses novos projetos.

 

FAVORITOS: Polaris, Into The Endless Night

NOTA FINAL: 4.2/5 


obrigado por ler.

 

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