24 de dezembro de 2023

Review de Disco: Slowdive - Just for a Day

Um marco histórico de uma era esquecida.

     

Pela primeira vez estamos presenciando um retorno do shoegaze no mainstream musical, depois de um período de inatividade nos anos 2000, onde poucos projetos notáveis eram lançados e a maioria que era caiu no esquecimento. (sujeito a exceções, como Texas Jerusalem CrossroadsVelocity : Design : Comfort)

    Os primeiros sinais de um retorno a popularidade do shoegaze vieram em 2013, com o lançamento de M B V, depois, em 2017 com o retorno de Slowdive, e seu disco auto-entitulado.

    Desde então, mais bandas e projetos surgiram, entretanto, parece que parte da identidade do "Shoegaze-pré-Loveless" foi sendo esquecida com o tempo, e os aspectos de Dream-pop foram sendo deixados de lado para dar espaço pra mais reverb e pedais de efeito.

     Just for a Day, disco de estréia da banda Slowdive, foi o álbum mais marcante do gênero até o lançamento de loveless, um título que não durou muito, pois o mesmo saiu apenas dois meses depois da publicação de Just for a Day. Esse disco é o exemplo mais brilhante de como era o shoegaze antes do My Bloody Valentine mudar todo o cenário, as canções longas, melódicas e lentas proporcionam uma atmosfera imersiva que poucos discos conseguem rivalizar, é um daqueles projetos pra começar a escutar e simplesmente afogar no som.

    Desde a primeira música, a banda já estabelece os aspectos de dream-pop e o sentimento de que aquela música realmente veio de um sonho, criando relações com a natureza e usando vocais distantes, embaçadas, as quais você entende uma frase ou outra, mas acaba tendo dificuldades pra entender o resto. Que nem num sonho mesmo, a gente se lembra de partes dele mas o restante fica como um borrão na nossa mente.

     Spanish Air é uma excelente introdução, já estabelecendo uma "vibe" e estilo melancólico, mas não deprimente, que a banda segue pelo restante das músicas, além de ter um refrão impactante que destaca as guitarras e aumenta o volume, numa canção que, de outra forma, seria muito lenta e desinteressante para uma introdução.

    Esse estilo continua, mas com menos energia na segunda música, Celia's Dream, que, por sinal, tem várias semelhanças com Pictures of You, do The Cure, desde as letras românticas até os sons de sinos espalhados ao redor. Gosto principalmente do último quarto da música, onde não há letra nenhuma, e a distorção das guitarras ganha o foco de quem estiver escutando, uma ótima conclusão. 

    A terceira música, é de longe a mais famosa e mais marcante do disco, se sobressaindo do resto e praticamente ganhando o status de um single, Catch the Breeze merece esse título. Tudo se encaixa nessa música! Culminando no refrão perfeito, que fica mais grandioso cada vez que retorna. 

       Ballad of Sister Sue fecha a onda de acertos da banda, com um refrão interessante e um som enigmático, a sua sequência, Erik's Song Deixa a desejar. É uma música completamente instrumental, algo que, numa playlist de shoegaze instrumental solta se encaixa perfeitamente, mas no meio desse disco, sua melhor função é servir como uma pausa entre as intensas distorções e reverberações, apesar de que eu achar que uma música instrumental seria a oportunidade perfeita para arrebentar e tentar criar algo realmente diferente.

    Assim o álbum segue, mas sua segunda metade deixa um pouco a desejar, parecem canções com potencial desperdiçado após uma sequência de acertos na primeira metade. Entre Waves, Brighter, The Sadman e Primal, todas essas músicas apresentam um conceito ou um som interessante que poderia levar para uma excelente canção, mas parecem ou cair no repetitivo ou se perder no meio do caminho. Não me entenda mal, todas elas tem pontos positivos e algo para elogiar, mas aí eu ficaria aqui por mais tempo do que o necessário. Dentre essas, as minhas favoritas são Waves e Primal.

    Just for a Day invoca o sentimento de deitar na grama e tentar olhar pro sol, de um sonho de uma noite de verão ou do que você quiser, mas deixa aquele gostinho de que algo melhor poderia ser saído disso, e daquele "Quero mais", ambos sentimentos que seriam atendidos pelo segundo álbum da banda, o aclamado clássico Souvlaki, Em geral, foi um ótimo primeiro passo para o que viria a se tornar uma das bandas mais duradouras e aclamadas do Shoegaze.

Nota Final: 4.2/5

Muito obrigado por ler até aqui, e desejo um feliz natal para todos!

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